O violoncelista pernambucano Antonio Meneses, de 52 anos, é um fenômeno da música clássica mundial. Trata-se de um dos dois brasileiros que pertencem de fato ao primeiro time do gênero – o outro é o pianista mineiro Nelson Freire. Meneses faz oitenta apresentações anuais, seja como solista de orquestra (a convite de regentes consagrados como Claudio Abbado e sir Simon Rattle), seja como integrante do conjunto de câmara Beaux Arts Trio. Embora viva há mais de vinte anos no exterior, entre os Estados Unidos e países da Europa, tem voltado ao Brasil com freqüência para se apresentar. No dia 5 de setembro ele estará em São Paulo para fazer mais uma bela apresentação. Pelo respeito de que desfruta, Meneses poderia facilmente assumir ares de prima-dona. Nada mais distante de seu estilo, contudo. Ao lado do talento musical, a discrição é por certo o seu traço mais evidente.
Ao contrário da maioria dos músicos eruditos, Meneses não alardeia seu talento e não freqüenta festas badaladas. Outro indício dessa discrição é o modo como ele fala sobre sua parceria com Cristina Ortiz. Nos anos 80, eles tocaram juntos com grande freqüência. A química era tão intensa ("Um sabia quando o outro ia respirar", lembra Cristina) que não demoraram a surgir boatos sobre um namoro. O dueto teve de se desfazer em 1988, por pressão da mulher de Meneses, a pianista filipina Cecile Licad. Ao assistir pela primeira vez a uma apresentação dos dois, Cecile enfureceu-se ao verificar que a harmonia entre eles, como já diziam as más-línguas, de fato transcendia o ambiente das salas de concerto. Até hoje, Meneses nega veementemente que tenha havido um caso entre ele e sua parceira. Cristina Ortiz é menos peremptória. "A separação me machucou e doeu por muito tempo", diz ela. Em meados dos anos 90, Meneses e Cecile Licad decidiram divorciar-se. Eles têm um filho, Otavio, cujo nome foi tirado de um personagem da ópera Don Giovanni, de Mozart. O divórcio abriu caminho para que a parceria com Cristina Ortiz se reconstituísse. "Ele me ligou, dizendo que havia perdido tempo demais e queria voltar. No que eu respondi: 'Depende. Se você estiver casado com outra pianista oriental, estou fora' ", brinca Cristina.
A ironia é que Meneses está casado com outra pianista – e oriental. A nova eleita é a japonesa Satoko Kuroda, professora de música na Basiléia, cidade suíça que Meneses escolheu para morar. Como a mulher raras vezes o acompanha em seus périplos musicais, ele desenvolveu uma boa fórmula para fazer "reviver a chama" nos reencontros. Ela inclui espaguete ao vôngole – preparado por Meneses – e servido ao som de peças de Bach tocadas pelo violoncelista espanhol Pablo Casals. "Antonio é um homem galante, um conquistador discreto, do tipo que diz tudo com o olhar", afirma uma amiga.
Meneses começou a aprender violoncelo aos 6 anos, por influência do pai, trompista da Orquestra Sinfônica Brasileira. Em 1977, aos 19 anos, ele foi o vencedor do prestigiado Concurso Internacional de Munique. Quatro anos mais tarde, gravou ao lado do austríaco Herbert von Karajan, um dos maiores regentes do século XX. Os registros da peça Don Quixote, de Richard Strauss, e do Concerto Duplo, de Johannes Brahms (que contou também com a violinista Anne-Sophie Mutter), feitos com Karajan, são itens obrigatórios em qualquer discoteca de música clássica que se preze. Meneses nem se abalava com as carraspanas que lhe dava o maestro austríaco, famoso também por sua rigidez. "Como bom descendente de nordestinos, eu sempre respeitei a autoridade", diz. O patrimônio do músico é composto apenas de seus dois violoncelos, avaliados em cerca de 1,3 milhão de dólares. "Eu continuo a pagar aluguel, porque sinto que não pertenço a lugar nenhum do mundo. Mas quem sabe um dia eu volte a morar no Rio."
Veja um pouquinho de um ensaio de Antonio...
Se quiser saber mais sobre esse violoncelista excepcional confiram o seu site http://www.antoniomeneses.com/index.htm
sábado, 29 de agosto de 2009
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